A História do cavalo que não tem sede

A História do cavalo que não tem sede



O jovem citadino queria tornar-se útil à quinta onde o albergavam, e por isso pensou:

- Antes de levar o cavalo para a o campo, vou dar-lhe de beber. Ganho tempo e ficaremos sossegados para todo o dia.
Mas, que é isto? Agora o cavalo a mandar? Recusa-se a ir para o bebedouro e só tem olhos e desejos para o campo e a luzerna? Desde quando é que os animais mandam?
- Virás beber, digo eu!...
E o campónio noviço puxa pela rédea e depois vai por trás e bate no cavalo com força. Enfim!... O animal avança... Está à beira do bebedouro ...
- Tem medo, talvez... Se o afagasse? ... Olha, a água é límpida! olha! Molha as ventas ....
Como! Não bebes? ... Olha!...

E o homem mergulha bruscamente as ventas do cavalo na água do bebedouro.
- Desta vez vais beber!
O animal funga e sopra, mas não bebe.

O camponês aparece, irónico:
- Ah! julgas que um cavalo se leva assim? É menos estúpido que um homem, sabes? Não tem sede ...
Podes matá-lo, mas não beberá.  Talvez finja beber, mas a água que sorve deitar-te á para cima ... Trabalho perdido meu velho.

- Então como se faz?
- Vê-se bem que não és camponês! Não compreendes que a esta hora matinal o cavalo não tem sede, precisa é de boa luzerna fresca. Deixa-o comer até fartar. Depois terá sede e hás-de vê-lo galopar para o bebedouro. Nem espera que lhe dês licença. Aconselho-te mesmo a não te intrometeres ... E quando beber, poderás puxar pela rédea!

É assim, que nos enganamos sempre, quando pretendemos mudar a ordem das coisas e obrigar a beber quem não tem sede ...

..............

Se o/a aluno/a não tem sede de conhecimentos, nem qualquer desejo pelo trabalho que se lhe apresenta, será igualmente trabalho perdido "enfiar-lhe" nos ouvidos as demonstrações mais eloquentes. É como se se falasse a quem não consegue ouvir (a um surdo).
Pode lisonjear-se, prometer-se ou bater ... o cavalo não tem sede!
E, cautela com essa insistência ou b essa brutal autoridade, corre-se o risco de suscitar nos alunos uma espécie de aversão fisiológica pelo alimento intelectual, e encerrar , talvez para sempre, os caminhos principais que levam às profundidades fecundas do ser.
É preciso provocar a sede!
É bom todo o método que estimula a necessidade!

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.